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Passar ou pegar o bastão: o relógio corre para qual lado?

Escrito por Rossana Perassolo

Quantas vezes não escutamos falar que na vida tudo tem dois lados? Precisamos ter a sabedoria de nos afastarmos e olharmos o cenário como um todo para avaliarmos ambos os lados, mesmo que façamos parte de um deles.

No processo de sucessão as coisas não devem ser diferentes. Temos o lado de quem quer passar o bastão e o outro de quem o receberá.

Normalmente, em empresas familiares, os dois lados têm consciência de que um dia a sucessão será necessária, mas o relógio sempre começa a rodar mais rápido para um dos lados e quase nunca em harmonia.

É muito simples fazer essa reflexão ao elaborarmos alguns cenários. Imagine-se querer viver uma nova fase de vida por julgar já ter construído tudo para você e seus herdeiros. O negócio que criou nasceu de um sonho e cresceu a partir do seu esforço pessoal. Você está cansado e quer curtir a vida fazendo outras coisas também importantes. Do outro lado, você tem um filho bem formado, mas com dúvidas se é o seu negócio que ele quer para a vida dele, afinal, é a vida dele. Neste caso o relógio está correndo para o seu lado.

Agora, imagine ter esse filho trabalhando para você desde os tempos de estágios da faculdade. Hoje ele já está formado e tem um cargo executivo na sua empresa, absolutamente seguro de que quer assumir os negócios da família e dar seguimento ao que você construiu com tanto afinco. O único posto que falta ele assumir é o seu. Por outro lado, você ainda não se sente seguro em largar o bastão, ou ainda não sente que é hora. Veja que diante de tanta dedicação por parte do sucessor, o relógio neste caso está sendo cruel com ele.

Apenas duas hipóteses entre dezenas de outras, mas todas revelam os dois lados da mesma moeda. O processo sucessório deve começar com um planejamento preliminar e muito antes de se consumar o fato. Entender quando e como passar e pegar o bastão é uma tarefa que exige planejamento, autoconhecimento e dedicação, inclusive em executar etapas prévias tão necessárias para preparar sucessor e sucedido, revisitar o planejamento e reinventar-se junto com o desenrolar do autoconhecimento constante.

São pessoas diferentes, em momentos de vida totalmente diferentes, com prioridades, expectativas e valores pessoais tão particulares, ainda que possam ter todas as afinidades possíveis. Respeitar essa unicidade é vital, inclusive para entender que ainda que a passagem de bastão seja muito bem feita, o sucessor vai correr a corrida dele a partir dali, não mais a do sucedido.

Quem está passando o bastão muitas vezes se vê carregado de preocupação e ansiedade, afinal, é o trabalho de uma vida, o resultado de um sonho e de décadas de muito esforço, sua maior herança e, muitas vezes, vê sua própria identidade no negócio que está passando adiante, é compreensível que tenha tantos cuidados e expectativas. Do outro, pode estar alguém sentindo ter ombros pequenos demais para tanto peso, cheio de angústia por ter que assumir um papel onde não se reconhece desempenhando (pelo menos não ainda). Talvez por insegurança, afinal ainda não tem a experiência que seu modelo tem, talvez por achar que não poderá imprimir sua marca e seu diferencial, talvez por simplesmente querer fazer outra coisa na vida, ou por inúmeras outras razões. Mas muitas vezes, na grande maioria, por não estar seguro do que realmente quer, pela cobrança em assumir ter sido desproporcionalmente maior do que o preparo necessário em desenvolve-lo para tal função.

Não basta querer, tem que fazer por acontecer e planejar todos os passos para ambos os lados. Um processo de desenvolvimento profissional para quem irá assumir é fundamental para gerar mais segurança em todo o processo.

A ideia deste texto não é trazer qualquer verdade ou certeza. É só um convite à reflexão, de que existem sempre, no mínimo, dois lados. Meu único palpite de como fazer a sucessão dar certo é que antes de tudo o que já falei acima deve vir compreensão, apreciação e respeito mútuos como base.

Artigo originalmente publicado no LinkedIn em 04 de Novembro de 2019.

Rossana Perassolo é Master coach e mentora formada pela Sociedade Brasileira de Coaching, com especializações em psicologia positiva, carreira, leader, executive, business, mentoring, personal & professional coaching. Certificações internacionais pela Association for Coaching (AC) e pelo Institute of Coaching Research (ICR). Analista comportamental formada em teorias DISC e motivadores pela TTI Success Insights. Analista comportamental formada em DISC, attributes & values pela IMX Innermetrix. Formada em publicidade e propaganda pela UFMT, com MBA em marketing pela ESPM. Por 15 anos atuou em grandes multinacionais da indústria de tecnologia da informação, 12 deles liderando times em todos os continentes, especialista em implementar, desenvolver e manter times de alta performance em diferentes países.

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