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Cinco coisas que eu percebi ao parar de ver jornais

Foto: Freepik | Starline

Escrito por Rossana Perassolo

Eu sei, polêmico isso. Já me cobrei muito para encaixar na minha rotina frenética tempo para assistir, escutar e ler as notícias todos os dias.

Como muitas pessoas, eu também acreditava que um adulto inteligente e engajado deveria estar por dentro das notícias diárias. Claro, afinal crescemos acreditando que acompanhar as notícias praticamente faz de você um cidadão melhor.

Me refiro em particular aos noticiários diários na TV e na internet, e não ao jornalismo como um todo. Há uma grande diferença entre assistir horas de notIciários (TV, internet e até nas rádios) promovendo o medo em cima de uma suposta nova epidemia mundial, e usar esse mesmo tempo para ler artigos anteriores já publicados e validados a respeito, falar com seu médico de confiança para pedir orientações de prevenção e conversar com colegas de trabalho para entender o impacto que isso pode ter na sua área e empresa, o que vocês podem fazer para se adaptarem e buscarem soluções para esse período. Vai sobrar tempo, o sentimento vai ser melhor e sua percepção vai ser muito mais real.

Eu parei de assistir aos noticiários na TV e a buscar as notícias diárias na internet há anos, já nem sei quantos. Inicialmente por incompetência em encaixar na agenda, depois por decisão mesmo, quando me dei conta dos benefícios que tive.

A percepção pode ser diferente para cada um. Parando, ou simplesmente fazendo uma pausa de 1 mês, é sempre interessante sair do piloto automático, rever as decisões, perceber-se. Entender que o modo como você se informa é decisão sua, e exercer esse direito.

 

Algumas coisas que eu percebi ao parar de ver jornais:

1. Poucas pessoas “informadas” realmente sabem do que estão falando

Eu me sentia pouco informada sobre os temas, mas tinha assunto nas discussões, e ninguém mais conseguia aprofundar. Parei de ver os noticiários e, observando essas conversas agora sob outra ótica, fica mais evidente como os noticiários dão uma perspectiva rasa (e muitas vezes tendenciosa), e que poucos vão atrás de mais informações para uma compreensão mais funcional.

Minha maneira de continuar fazendo parte das “rodinhas” quando alguém pergunta “você não soube sobre isso?!”, é responder “não, me conta!”, e ir pedindo mais detalhes, questiono um pouco a reflexão, se faz sentido ou não, perspectivas, etc. Acho que vale à pena a discussão, desde que não seja um tema que entre em looping eterno sem sair do lugar, sem agregar nada.

2. Existem maneiras muito melhores de “estar informada”

Todos queremos viver em uma sociedade bem informada.  As notícias informam as pessoas, mas não acho que as informam particularmente bem.

Existem muitas fontes de “informação”. Qualquer rótulo de molho de tomate traz informação. Hoje há muito mais do que podemos absorver, então temos que escolher o que merece nosso tempo. As notícias fornecem informações em volume infinito, mas com profundidade muito limitada, e visam claramente agitar-nos mais do que educar-nos.

“Leia três livros sobre um tópico e saiba mais sobre ele em 99% do mundo. Assista a notícias o dia inteiro por anos e você tem uma percepção distante, no nível do refrigerador de água, de milhares de histórias, pelo menos nas poucas semanas em que cada uma é popular.”

Se nos preocupamos apenas com a amplitude das informações, e não com a profundidade, não há muita distinção entre “manter-se informado” e ficar mal informado.

3. Eu tenho tempo

Tirando as horas por mês e por ano gastas em noticiários (já contabilizou as suas?) eu consegui fazer muito mais coisas coisas. Coisas que eu dizia que eram muito importantes e que não tinha tempo. Percebi que eu tenho tempo, sim. E isso foi libertador e me ajudou a repensar toda a minha rotina diária para ver o que precisa ou não ser feito.

É o que dizem: todos temos 24 horas por dia, a diferença é o uso que fazemos dessas horas.

4. Eu me sinto melhor

Melhor como? Mais bem humorada, mais otimista, mais leve. E olha que sou xarope, continuo. Mas me ajudou bastante.

Entenda de uma vez por todas: notícias são produtos e, sendo assim, são meticulosamente pensados para vender mais, dar mais audiência.

Minha formação universitária é em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, parte do curso foi feita em comum com as turmas de Jornalismo e Radialismo. Além de ser uma curiosa incorrigível e ter lido bastante e ter ouvido várias histórias sobre como os “grandes furos de notícias” nasceram desde os primórdios dos noticiários.

Neurociência explica também essa nossa atração pela negatividade, faz parte da evolução da humanidade, tem uma certa função, temos que prestar mais atenção ao que é assustador e irritante para sobreviver. Isso está tão gravado no nosso DNA que acaba sendo usado com facilidade para atrair nossa atenção. As ameaças existem atualmente, mas somos confundidos constantemente por profetas do apocalipse em busca de audiência. Negatividade e medo dão essa audiência.

Entendeu por que eu me sinto melhor?

5. “Estar preocupada” faz sentir que estou fazendo algo, quando na verdade não estou

Escolha o que quiser, de injustiças a catástrofes, são inúmeras as histórias trazidas pelos noticiários, que nos sentimos desconfortáveis em ignorar, já que envolvem o sofrimento de pessoas. Os noticiários se valem daqueles relatos como produtos, de forma superficial, mas eles são muitas vezes reais. Ignorar isso nos traz o sentimento de culpa.

A menos que eu após ver a notícia faça algo realmente efetivo e direto para ajudar, continuar assistindo com os olhos cheios de lágrimas (genuínas) e o coração cheio de preocupação não muda nada, só alivia um pouco esse sentimento de culpa que eu sentiria caso ignorasse o sofrimento alheio.

A verdade é que a grande maioria de nós não prestará absolutamente nenhuma ajuda às vítimas de quase todas as atrocidades que acontecem neste mundo, televisionadas ou não. E isso é difícil de aceitar. Mas se pelo menos podemos mostrar preocupação, mesmo para nós mesmos, não temos aceitado isso. Podemos permanecer não envolvidos sem nos sentirmos envolvidos.

Esta pode ser a maior razão pela qual temos medo de desativar as notícias. E pode ser o melhor motivo para fazê-lo. Deixar de achar que está fazendo algo, perceber que não está, e decidir se quer mesmo fazer algo a respeito, de alguma forma, para algum dos casos que toma conhecimento.

 

E você, deixou as notícias alguma vez? O que você percebeu?

Artigo publicado no LinkedIn.

Rossana Perassolo é Mentora e Master Coach formada pela Sociedade Brasileira de Coaching, com especializações em psicologia positiva, carreira, leader, executive, business, mentoring, personal & professional coaching. Certificações internacionais pela Association for Coaching (AC) e pelo Institute of Coaching Research (ICR). Analista comportamental formada em teorias DISC e motivadores pela TTI Success Insights. Analista comportamental formada em DISC, attributes & values pela IMX Innermetrix. Formada em publicidade e propaganda pela UFMT, com MBA em marketing pela ESPM. Por 15 anos atuou em grandes multinacionais da indústria de tecnologia da informação, 12 deles liderando times em todos os continentes, especialista em implementar, desenvolver e manter times de alta performance em diferentes países.

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