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Qual o seu tipo de mulher?

Foto: Freepik | Rawpixel.com

Escrito por Rossana Perassolo

Me lembro bem daquela tarde. A empresa promoveu um workshop para mulheres sobre os desafios e dificuldades que só as mulheres enfrentam no trabalho e para conciliar vida profissional e pessoal. Eu estava provavelmente no meu oitavo ano já trabalhando no mercado de TI – ambiente ainda predominantemente masculino naquela época – com uma posição de gestão para a América Latina, no auge do que cheguei a ser como workaholic.

Sem tempo para nada, pensar em passar uma tarde inteira “improdutiva” em um encontro de mulheres… Nossa, pra quê? Mas fui. Me obriguei a ir, para “fazer essa média”. Ficaria feio não participar.

 

E mudou a minha vida, de diversas formas.

 

Hoje vejo que meu nível de surpresa com o evento poderia ser comparado ao de um homem que fora convidado a participar, um homem bem alheio ao universo feminino, exposto pela primeira vez àquela realidade.

Desde então, deixei de ser cega quanto às diferenças entre homens e mulheres também no mercado de trabalho. Passei a observar muito mais, respeitar muito mais. Encontrei meus modelos femininos naquele ambiente de trabalho, e eram de carne e osso. Reencontrei grandes modelos de mulheres da minha vida e voltei a perceber que é nelas, também, que eu me espelho, embora tivesse esquecido disso. Diferenças que nos constróem.

Importante reconhecer que se tratando de sensibilidade para perceber, entender e respeitar essas diferenças e como desenvolver e tirar o melhor de cada um, tive líderes homens realmente maravilhosos (silenciosos, que não levantavam bandeira, mas genuinamente faziam por onde) e tive líderes mulheres terríveis (participantes ativas de grupos de mulheres, muito blá mas no dia-a-dia mesmo, não vivem isso, fora dos holofotes).

Mudei muito como mulher. Achava que se você quisesse viver, ter sucesso e poder, teria que ser um homem. Ser homem não era uma opção para mim, então agia mais masculinizada em alguns momentos. Sempre fui mais moleca, as brincadeiras dos meninos eram muito mais divertidas. Ainda acho isso, só contesto muito o que “é de menino ou de menina”. Ser mãe de um casal de gêmeos me possibilita confrontar isso diariamente, com coisas que eu sequer pensava a respeito. Voltam da escola dizendo “isso não é coisa de menino / menina” e rola aquela conversa para entender e para trazer entendimento. O que cada um quer fazer de verdade, separar o que realmente deve ser separado (bem pouca coisa) e o que é simplesmente gosto. Exige estar mais próxima, conversar mais, ajudá-los a pensar a respeito e não só repetirem o que escutam sempre, como verdades absolutas.

Mudei também como líder. Tendo times em diferentes Países, entender de verdade cada mulher de outras culturas que tive o privilégio de contratar e / ou assumir como gestora, respeitar, buscar me ajustar e me desenvolver para agregar o máximo possível a cada uma. A imensa paciência de cada uma delas em me dar visibilidade do seu mundo, seus desafios únicos, suas preocupações e seus sonhos. Quantas vezes foram elas minhas top achievers, mesmo com times de alta performance, onde a concorrência pelo topo era grande, mas ainda assim se destacaram. Muitas vezes.

Aliás, foi naquele workshop que falei no início deste texto, também, que percebi que queria ter filhos. Eu sabia que queria conhecer o mundo, que queria construir uma carreira da qual eu me orgulhasse, sabia que queria estar casada com quem amo. Mas filhos? Não vinha essa resposta. Apesar da proposta do exercício não ter sido especificamente essa, foi um “momento A-HA!”, muito nítido. Hoje cada vez mais muitas mulheres escolhem não ser mães, ou postergam tanto, para priorizar a carreira, que quando querem já não conseguem, ou não como idealizaram. E ainda encontram o desafio de ter que explicar “como assim, não tem / não quer ter filhos?”. Cada uma sabe o que tem que enfrentar, e o que a faz feliz. Ponto.

Se a vida não é encontrar a si mesmo e sim criar a si mesmo, as mulheres são mestres nisso

Somos inventoras, e das melhores. Criamos coisas incríveis que mudaram o mundo. Mas, acima de tudo, reinventamos a nós mesmas. Desconstruímos, ressignificamos, começamos do zero, com coragem ou com medo mesmo.

 

Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim

decidir rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar;

porque descobri, no caminho incerto da vida,

que o mais importante é o DECIDIR.

– Cora Coralina

 

A mulher é capaz de deixar de lado uma carreira promissora ou já de sucesso para se dedicar à maternidade. Às vezes em “definitivo” (e o que é definitivo nessa vida? É, enquanto ela queira que seja), e é preciso coragem, entrega e suporte para isso. Foi o que fez a minha mãe, talvez a sua ou de alguém que você conheça, ou talvez você mesma ou sua esposa esteja considerando fazer isso. Lá pelos meus tempos de faculdade eu percebi quem era a minha mãe: uma mulher externamente inteligente (fora da curva até, eu diria, mas cresci ouvindo-a dizer que o inteligente do casal é o meu pai), com um potencial incrível, que poderia ter tido uma carreira de sucesso, casou-se aos 20 anos, um ano depois já teve seu primeiro filho e eu costumava dizer que “ela abriu mão de construir uma carreira, mas que eu via que fomos privilegiados por ter nossa mãe em casa cuidando de nós”. Só esta semana, pensando a respeito, percebi a força desse pensamento para mim até hoje e como isso impacta minhas decisões de trabalho pós filhos.

E essas mulheres, depois de um tempo, filhos criados, missão cumprida. Voltam novamente sua atenção para si, para o que mais realizar, para o que gostam, a que querem dedicar-se agora? Hora de reinventar-se, outra vez. Que capacidade é essa, de reinventar-se de tal maneira, que mude até seus valores pessoais mais importantes? 

Por outro lado, algumas dedicam-se integralmente à maternidade por um período de tempo, sabendo que querem retomar depois de alguns meses ou anos, mesmo encontrando todos os muitos desafios que o mercado de trabalho oferece às mães. Metade das mulheres que voltam da licença maternidade são demitidas até 12 meses depois. Trabalho e carreira são fundamentais para essas mulheres, são parte da sua essência, e elas vão fazer o que tiver que ser feito para conciliar a nova rotina.

Ser mulher é para os mais fortes. Ser homem também tem seus percalços, sejamos justos. Ser, de verdade, é o mais desafiador. Saber quem somos, quem queremos ser, como isso pode agregar mais ao mundo, como isso pode agregar mais a nós mesmos. Como ser flexível, sem perder de vista a essência. Para ir em busca do que quer, tem que saber o que é, deixar de lado a síndrome de impostor e saber o quanto merece tudo o que quer.

“Sou grata a todas as mulheres que lutaram pelos meus direitos antes de mim.”

Era insano, totalmente absurdo. Há culturas em que essa realidade ainda é assustadora. Há um grande caminho pela frente, mas já está aberto, nos resta percorre-lo.

Muita coisa ainda acontece, de forma velada ou escancarada, em muitas empresas “modernas”. Eu passei por incontáveis situações, você deve ter passado por outras tantas (se você é homem, também viu isso acontecer).

Entender que são circunstâncias inaceitáveis e que como mulheres podemos nos posicionar, de forma firme e profissional, para que o que é certo se cumpra, é o básico.

Autoconhecimento e desenvolvimento também ajudam nisso, desenvolver auto-confiança, saber suas forças, trabalhar no que tem que ser trabalhado. Pequenas grandes coisas que fazem a diferença.

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

Contribuição da imagem: José Renato Autílio

 

Qual o seu tipo de mulher? O meu ainda está em formação, mas acho que é uma mescla entre inconformada e que decide. Hoje vejo que essa pode até ser uma mistura boa!

 

Este texto é um tributo singelo às mulheres que me inspiram, que formaram quem sou e que continuam a cruzar o meu caminho. Minha avó, minha mãe, minha irmã, em especial. Também para cada profissional, amiga e cliente que passou pelo meu caminho, cada uma que ainda está, que tem sido modelo em tantas forças, com tanta vivência. Que eu possa me desenvolver para ter um pouco de cada uma comigo, e terei muito.

 

Artigo publicado no LinkedIn.

Rossana Perassolo é Mentora e Master Coach formada pela Sociedade Brasileira de Coaching, com especializações em psicologia positiva, carreira, leader, executive, business, mentoring, personal & professional coaching. Certificações internacionais pela Association for Coaching (AC) e pelo Institute of Coaching Research (ICR). Analista comportamental formada em teorias DISC e motivadores pela TTI Success Insights. Analista comportamental formada em DISC, attributes & values pela IMX Innermetrix. Formada em publicidade e propaganda pela UFMT, com MBA em marketing pela ESPM. Por 15 anos atuou em grandes multinacionais da indústria de tecnologia da informação, 12 deles liderando times em todos os continentes, especialista em implementar, desenvolver e manter times de alta performance em diferentes países.

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